domingo, 8 de março de 2015

AULA 10 - CONSTRUTIVISMO

“Construir a arte e não criá-la.”

Definição


Para o construtivismo, a pintura e a escultura são pensadas como construções - e não como representações -, guardando proximidade com a arquitetura em termos de materiais, procedimentos e objetivos. 


O termo construtivismo liga-se diretamente ao movimento de vanguarda russa e a um artigo do crítico N. Punin, de 1913, sobre os relevos tridimensionais de Vladimir Evgrafovic Tatlin (1885 - 1953). 
A consideração das especificidades do construtivismo russo não deve apagar os elos com outros movimentos de caráter construtivo na arte, que ocorrem no primeiro decênio do século XX
O grupo de artistas expressionistas reunidos em torno de Wasilli Kandinsky (1866 - 1914) no Der Blaue Reiter [O Cavaleiro Azul], em 1911, na Alemanha; 
O De Stijl [O Estilo], criado em 1917, que agrupa Piet Mondrian (1872 - 1944), Theo van Doesburg (1883 - 1931) e outros artistas holandeses ao redor das pesquisas abstratas; 
O suprematismo, fundado em 1915 por Kazimir Malevich (1878 - 1935), também na Rússia. 
Isso sem esquecer os pressupostos construtivos que se fazem presentes, de diferentes modos, no cubismo, no dadaísmo e no futurismo italiano.

A ideologia revolucionária e libertária que impregna as vanguardas em geral, adquire feições concretas na Rússia, diante da revolução de 1917. A nova sociedade projetada no contexto revolucionário mobiliza os artistas em torno de uma arte nova, que se coloca a serviço da revolução e de produções concretas para a vida do povo. Afinal, a produção artística deveria ser funcional e informativa. Realizações dessa proposta podem ser encontradas nos projetos de Aleksandr Aleksandrovic Vesnin (1883 - 1959) para o Palácio do Trabalho e para o jornal Pravda e, sobretudo, no Monumento à Terceira Internacional, de Tatlin, exposto em 1920, mas nunca executado - seria erguido no centro de Moscou. De ferro e vidro, a gigantesca espiral giraria sobre si mesma, concebida para ser também uma antena de transmissão radiofônica, é descrita pelo artista como "união de formas puramente plásticas (pintura, escultura e arquitetura) para um propósito utilitário".



A obra de Alexander Rodchenko (1891 - 1956) é outro exemplo de atualização do programa construtivista e produtivista russo. Das pesquisas iniciais, em estreito diálogo com as pinturas abstratas e geométricas de Malevich, o artista passa às construções tridimensionais por influência de Tatlin, encontrando posteriormente na fotografia um meio privilegiado de expressão e registro pictórico da nova Rússia. Sua perspectiva fotográfica original influencia de perto o cinema de Sergei Eisenstein (1898 - 1948).



As discussões sobre a função social da arte provocam fraturas no interior do construtivismo russo. Os irmãos Antoine Pevsner (1886 - 1962) e Naum Gabo (1890 - 1977), signatários do Manifesto Realista de 1920, recusam um programa social e aplicado da arte - lembrando as críticas de Gabo ao monumento de Tatlin - em defesa de uma morfologia geométrica em consonância com a teoria suprematista de Malevich. Suas pesquisas inclinam-se na direção da arte abstrata, do diálogo cerrado entre arte e ciência e do uso de materiais industriais, como o vidro e o plástico. Em 1922, quando o regime soviético começa a manifestar seu desagrado com a pauta construtivista, Pevsner e Gabo deixam a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas - URSS. Na década seguinte, a defesa oficial de uma estética "realista" e "socialista" representa o golpe último nas pesquisas de tipo formal dos construtivistas. O exílio dos artistas contribui para a disseminação dos ideais estéticos da vanguarda russa que vão impactar a Bauhaus na Alemanha, o De Stijl, nos Países Baixos, e o grupo Abstraction-Création [Abstração-Criação], na França. Gabo será um dos editores do manifesto construtivista inglês Circle, de 1937.



Não são pequenas as influências do construtivismo na América Latina, em geral, e no Brasil, em particular, no período após a Segunda Guerra Mundial (1939-1945). Marcas da vanguarda russa podem ser observadas no movimento concreto de São Paulo, Grupo Ruptura, e no Rio de Janeiro, Grupo Frente. A ruptura neoconcreta estabelecida com o manifesto de 1959 - que reúne Amilcar de Castro (1920 - 2002), Ferreira Gullar (1930), Franz Weissmann (1911 - 2005), Lygia Clark (1920 - 1988), Lygia Pape (1927 - 2004), Reynaldo Jardim (1926) e Theon Spanudis (1915) - não afasta as influências do construtivismo russo, sobretudo na vertente inaugurada por Pevsner.


Os Construtivistas pretendiam fazer da arte, uma investigação autônoma e cientifica, indagando das propriedades abstratas da superfície pictórica, da construção, da linha e da cor. 
O termo Construtivismo surge pela primeira vez em Janeiro de 1922, num catálogo para uma exposição no Café dos Poetas em Moscovo, onde se afirmava que “todos os artistas devem ser operários, a fábrica é o local onde se cria e constrói a verdadeira vida”. 
O “Artista novo” devia abandonar as Belas-Artes, meramente contemplativas, burguesas e reacionárias e tornar-se um artista ativo e interveniente no contexto social e da produção industrial ou produtivista ,no sentido atual, designer.
Os Construtivistas eram apologistas da anti-Arte, criticando os métodos acadêmicos e evitavam utilizar os media tradicionais: a tela e os óleos e a pintura de cavalete. Inovaram radicalmente nos domínios da propaganda, colagem, artes gráficas, tipografia, fotografia e fotomontagem, cerâmica, têxteis, moda, cinema, teatro, etc. e mais tarde no Design, Arquitetura e Urbanismo.  




VLADIMIR TATLIN


Pintor, escultor e arquiteto russo nascido em Kharkov, Rússia, hoje Ucrânia (1885-1953), primeiro teórico do construtivismo soviético e grande incentivador do movimento. Estudou na Escola de Pintura, Escultura e Arquitetura de Moscou, graduou-se na Academia de Belas-Artes de Moscou (1910) e começou a carreira produzindo quadros em estilo figurativo.
Viajou a Paris (1913), onde é influenciado pelas construções tridimensionais de Picasso, em papel, madeira e outros materiais. 
É a partir destas obras que Tatlin funda o Construtivismo, movimento que associaria vários artistas como do Aleksandr Rodchenko e sua mulher Stepanova.
Com o triunfo da revolução soviética (1917), passou a trabalhar usando a arte como instrumento de educação para o povo.
Os construtivistas acreditavam que a arte deveria refletir o novo mundo industrial e adaptar formas, materiais e técnicas da moderna tecnologia, encarnando a ideia do artista-engenheiro empenhado na construção de objetos úteis.
Exemplo desta fase criativa é o “Relevo de esquina complexo”, de 1915, em aço, alumínio, zinco e madeira. Peças de metal e de madeira são justapostas e suspensas da esquina de uma sala, pretendendo acentuar valores de contraste entre formas, materiais e texturas.
Muitas construções, como o Monumento da 3ª Internacional (1919), criado por Tatlin, são protótipos para arquitetura, cenários ou desenho industrial.
Este monumento pretendia representar os novos tempos e a dinâmica social, tentando integrar arte e técnica. Esta metáfora da sociedade maquinista relaciona-se com um tema que estava presente também nos outros movimentos de vanguarda. 





Feito com ferro, vidro e madeira, em consonância com as ideias socialistas e usando materiais industrializados empregados no uso cotidiano, colocaram a arte a serviço do bem comunitário, atuando na direção utilitária do desenho industrial e arquitetura.
A torre teria 400 metros de altura (mais alta que a Torre Eiffel) e o monumento seria colocado no centro de Moscou.
O projeto, nascido num momento de entusiasmo político, nunca foi construído devido à alteração da política governamental que passou a manifestar-se contra a arte de vanguarda e também pelo pouco aço, dessa forma, a ideia não passou de um modelo, mas certamente teria sido o mais impressionante “construto” de todos os tempos.
Inclinada como a Torre de Pisa, a estrutura vazada de vidro e ferro se baseia numa espiral contínua para representar o progresso vertical da humanidade, onde todos os cilindros iriam girar: embaixo daria uma volta de 365 dias, no meio, 30 dias (lua) e em cima, 24 horas.
Na parte de baixo comportaria repartições públicas; no meio, escritórios e em cima, uma estação de rádio. Na calota (protetor) trazia slogans comunistas.
Reconstruída em 1976/1968 (maquete) para uma exposição na Moderna Museet, em Estocolmo, Tatlin projetou essa movimentada torre como um símbolo do monumento e do ilimitado potencial da União Soviética, representando a alegoria do Cosmo.
Representa o imaginário do Construtivismo.

OBRAS:


   

ALEXANDER RODCHENKO
1891-1956

Nascido em 23 de novembro de 1891, em São Petersburgo, Rodchenko frequentou a escola de artes em Kazan, na Rússia, de 1910 a 1914, em seguida, estudou artes gráficas na escola de artes aplicadas em Moscou (1915). O artista foi influenciado pelo cubismo, futurismo e Art Nouveau, e seu mentor foi Vladimir Tatlin. Primeiro trabalho de Rodchenko foi como assistente de Tatlin em uma obra futurista de 1916 em Moscou, no qual dez das fotos de Rodchenko foram mostradas. Em 1918, Rodchenko ajudou a fundar o Museu de cultura artística e tornou-se seu primeiro diretor. Por volta de 1920, ele foi um dos membros mais ativos do Institut Khudozhestvennoy Kultury - também conhecido é Inkhuk - e ensinou um Vkhutemas. A partir de 1918 foi ativo por vários anos com o Comité de artes aplicadas, uma agência do governo. Em 1921-22, ele fez trabalho ilustrativo em teatro, filmes, tipografia e publicidade e continuou ao longo da década de 1920 para fornecer desenhos de capa para uma gama extraordinariamente ampla de publicações  de livros. Ele também desenhou a capa do Kino-Fot, um periódico dos construtivistas russos, que começou em 1922 e em qual Rodchenko foi publicado regularmente. Ele assumiu a fotografia em 1924 e deu uma pequena série de palestras sobre o meio em Vkutein (escola de belas artes técnicas) na década de 1920.  Rodchenko começou foto-relato em 1926, trabalhando para as revistas Ogonok, Radioslushatel, Prozhektor, Krasnoye Studenchestvo, Dayosh, Za rubezhom, Smena, Borba klassov e o diário Vechernaya Moskva, entre outros. Em 1932 o fotógrafo, cujo trabalho era - e ainda é - exibido amplamente, começou a trabalhar na fotomontagem. Durante a sua primeira e única viagem no exterior Rodchenko foi premiado com quatro medalhas de prata na exposição de Paris de março de 1925. Também envolvido no mundo do cinema, Rodchenko feitas uma série de noticiário dirigida por Dziga Vertov, originalmente chamado Kino-Pravda e mais tarde chamado de um sexto do mundo, que foi iniciado em 1922. Entre 1927 e 1930 foi "Construtor-artista". Um construtivista, Rodchenko foi um dos primeiros foto-colagistas. Alguns de seus temas favoritos foram esportes, circo, procissões festivas e o soviético modo de vida. Ele experimentou com êxito com a fotografia de close-up, e "a lente de sua câmera descobriu objetos de arquitetura incomum, ritmo e plasticidade" em objetos removidos de seu ambiente habitual. "O espectador que vê apenas um estudo na foto do jarro de vidro iluminado por trás não consegue apreciar a composição magistral, a nobre pureza de linhas, a rica plasticidade da forma e, consequentemente, também a poesia e beleza da imagem e ainda mais importante, suas qualidades especificamente fotográficas"
(Karginov, Rodchenko).



OBRAS:
http://oseculoprodigioso.blogspot.com.br/2006/02/rodchenko-alexander-fotografia.html?q=CONSTRUTIVISMO


TEXTO: Enciclopédia Itaú Cultural
http://enciclopedia.itaucultural.org.br/termo3780/construtivismo

ARGAN, Giulio Carlo. Arte moderna: do iluminismo aos movimentos contemporâneos. Tradução Denise Bottmann, Frederico Carotti; prefácio Rodrigo Naves. São Paulo: Companhia das Letras, 1992. xxiv, 709 p., il. color.

BRITO, Ronaldo. Neoconcretismo: vértice e ruptura do projeto construtivo brasileiro. 2. ed. São Paulo : Cosac & Naify, 1999. 110 p. il., p.b. color. (Espaço da arte brasileira).

CASTILLO, Jorge. Vanguarda e classicismo. In: BIENAL INTERNACIONAL DE SÃO PAULO, 22., 1994, São Paulo, SP. Salas especiais. Apresentação Edemar Cid Ferreira; comentário Nelson Aguilar. São Paulo: Fundação Bienal de São Paulo, 1994. 478 p., il. color. p. 418-438.

CHALVERS, Ian. Dicionário Oxford de Arte. Tradução Marcelo Brandão Cipolla. 2.ed. São Paulo: Martins Fontes, 2001.

DICIONÁRIO da Pintura Moderna. Tradução Jacy Monteiro. São Paulo: Hemus, 1981. 380 p., il. p.b.

La Nuova enciclopedia dell'arte Garzanti. Milano: Garzanti, 1986. 1117 p.: il. 

MORAIS, Frederico. Cronologia das artes plásticas no Rio de Janeiro: da Missão Artística Francesa à Geração 90: 1816-1994. Rio de Janeiro: Topbooks, 1995. 559p.

ZANINI, Walter (org.). História geral da arte no Brasil. Pesquisa Cacilda Teixeira da Costa, Marília Saboya de Albuquerque; apresentação Walther Moreira Salles. São Paulo: Fundação Djalma Guimarães: Instituto Walther Moreira Salles, 1983. 2v.

AMARAL, Aracy (org.). Projeto construtivo brasileiro na arte: 1950-1962. Rio de Janeiro: MAM, 1977. 357 p., il. p&b.


Nenhum comentário:

Postar um comentário